O Transtorno do Espectro Autista (TEA) é uma condição neurodesenvolvimental caracterizada por dificuldades na comunicação social, padrões de comportamento repetitivos e interesses restritos, frequentemente associada a comorbidades como ansiedade, distúrbios do sono, epilepsia e alterações sensoriais. Nos últimos anos, o uso da Cannabis medicinal, em especial o canabidiol (CBD), tem sido investigado como uma abordagem terapêutica promissora para auxiliar na redução de sintomas comportamentais e emocionais que impactam a qualidade de vida desses pacientes e de seus familiares.
O mecanismo de ação dos canabinoides no TEA está relacionado ao sistema endocanabinoide (SEC), uma rede complexa de receptores, endocanabinoides e enzimas que modulam funções fisiológicas como a neurotransmissão, a neuroinflamação e a plasticidade sináptica. Evidências sugerem que indivíduos com TEA podem apresentar disfunções nesse sistema, incluindo alterações na expressão de receptores CB1 e CB2, o que pode contribuir para déficits na regulação emocional e na excitabilidade neuronal (Zamberletti et al., 2017). O CBD, ao interagir indiretamente com esses receptores e modular a sinalização de neurotransmissores como GABA e glutamato, pode exercer um efeito ansiolítico, neuroprotetor e anti-inflamatório, favorecendo o equilíbrio neuroquímico e reduzindo sintomas de hiperexcitabilidade, irritabilidade e agressividade (Poleg et al., 2019).
Dentre os canabinoides estudados para o tratamento do TEA, o CBD tem se destacado por seu perfil de segurança e pela ausência de efeitos psicoativos, diferentemente do tetrahidrocanabinol (THC), que pode apresentar efeitos adversos, especialmente em pacientes pediátricos. Estudos clínicos sugerem que o CBD pode melhorar sintomas como ansiedade, insônia, comportamentos disruptivos e dificuldades na interação social. Em um estudo de Barchel et al. (2019), crianças com TEA tratadas com uma formulação rica em CBD apresentaram melhora significativa em parâmetros como inquietação, crises de birra e déficits na comunicação.
A dosagem do CBD no TEA deve ser individualizada, iniciando-se com doses baixas e aumentando gradualmente até atingir o efeito terapêutico desejado. Protocolos clínicos sugerem uma faixa de dose entre 0,5 mg/kg/dia e 5 mg/kg/dia, com ajustes progressivos conforme a resposta clínica do paciente (Aran et al., 2021). Monitoramento rigoroso é essencial para evitar efeitos adversos como sonolência, alterações gastrointestinais e interações medicamentosas, especialmente em pacientes que fazem uso concomitante de anticonvulsivantes ou neurolépticos.
As pesquisas sobre Cannabis medicinal no TEA estão em ascensão, mas ainda há necessidade de ensaios clínicos randomizados de longo prazo para estabelecer protocolos padronizados e compreender melhor os efeitos a longo prazo do tratamento. Apesar disso, os achados preliminares são promissores, indicando que o CBD pode representar uma opção terapêutica viável para pacientes com TEA que apresentam sintomas refratários às abordagens convencionais. A prescrição de canabinoides deve ser feita com base em evidências científicas atualizadas, respeitando as diretrizes regulatórias vigentes e garantindo acompanhamento clínico contínuo para otimização da terapia.
Referências Bibliográficas
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Aran, A., Cassuto, H., Lubotzky, A., Wattad, N., & Hazan, E. (2021). Brief Report: Cannabidiol-Rich Cannabis in Children with Autism Spectrum Disorder and Severe Behavioral Problems—A Retrospective Feasibility Study. Journal of Autism and Developmental Disorders, 51(4), 1531–1538.
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Barchel, D., Stolar, O., De-Haan, T., Ziv-Baran, T., Saban, N., Fuchs, D. O., Koren, G., & Berkovitch, M. (2019). Oral cannabidiol use in children with autism spectrum disorder to treat related symptoms and co-morbidities. Frontiers in Pharmacology, 9, 1521.
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Poleg, S., Golubchik, P., Offen, D., & Weizman, A. (2019). Cannabidiol as a suggested candidate for treatment of autism spectrum disorder. Progress in Neuro-Psychopharmacology and Biological Psychiatry, 89, 90-96.
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Zamberletti, E., Gabaglio, M., & Parolaro, D. (2017). The Endocannabinoid System and Autism Spectrum Disorders: Insights from Animal Models. International Journal of Molecular Sciences, 18(9), 1916.
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