segunda-feira, 10 de março de 2025

A Cannabis na saúde da Mulher. O universo feminino da flor da saúde.


 

A Cannabis medicinal tem despertado crescente interesse na área da saúde da mulher devido à sua interação com o sistema endocanabinoide (SEC), um complexo neuromodulador envolvido na regulação de diversos processos fisiológicos, incluindo dor, inflamação, humor e homeostase hormonal. O SEC é composto por receptores canabinoides CB1 e CB2, endocanabinoides como anandamida (AEA) e 2-araquidonoilglicerol (2-AG), e enzimas responsáveis pela sua síntese e degradação, como FAAH (fatty acid amide hydrolase) e MAGL (monoacilglicerol lipase) (Palazzoli et al., 2021). Estudos indicam que distúrbios no SEC podem estar relacionados a várias condições ginecológicas, tornando os fitocanabinoides uma potencial abordagem terapêutica inovadora para mulheres com doenças como endometriose, síndrome do ovário policístico (SOP), dismenorreia e sintomas da menopausa (Mitchinson et al., 2023).

Cannabis Medicinal e Endometriose

A endometriose é uma condição inflamatória crônica caracterizada pelo crescimento ectópico do tecido endometrial, causando dor pélvica intensa e infertilidade. Evidências científicas sugerem que mulheres com endometriose apresentam uma disfunção do SEC, com menor expressão de receptores CB1 e níveis reduzidos de AEA na região pélvica, o que contribui para a perpetuação da dor crônica (Bouaziz et al., 2017). O THC (delta-9-tetrahidrocanabinol), um agonista parcial dos receptores CB1 e CB2, tem ação antinociceptiva ao reduzir a liberação de neurotransmissores excitatórios envolvidos na dor, enquanto o CBD (canabidiol) modula a inflamação por meio da inibição da COX-2 (ciclooxigenase-2) e da modulação de citocinas pró-inflamatórias, como TNF-α e IL-6 (Russo, 2016).

Além da dor, a endometriose frequentemente cursa com sintomas de fadiga, distúrbios do sono e depressão, devido à ativação prolongada do eixo hipotálamo-hipófise-adrenal (HHA). O CBD tem mostrado efeitos ansiolíticos e antidepressivos ao interagir com os receptores 5-HT1A (serotoninérgicos) e aumentar a sinalização do GABA, promovendo relaxamento e melhora da qualidade do sono (Shannon et al., 2019). Pesquisas recentes demonstram que mulheres com endometriose que utilizaram Cannabis medicinal relataram redução significativa na dor, menor necessidade de opioides e melhora no bem-estar emocional (Gaspari et al., 2020).

Síndrome do Ovário Policístico (SOP) e Canabinoides

A SOP é um distúrbio endócrino caracterizado por hiperandrogenismo, anovulação e resistência insulínica. O SEC tem um papel fundamental na regulação do metabolismo energético e na homeostase hormonal, sendo que alterações nos níveis de endocanabinoides podem contribuir para os desequilíbrios hormonais observados na SOP (Mendelson et al., 2022). O CBD, por sua ação moduladora nos receptores PPAR-γ (proliferator-activated receptor gamma), pode ajudar a melhorar a sensibilidade à insulina e reduzir a inflamação sistêmica, fatores-chave na fisiopatologia da SOP (Cortesi et al., 2019).

Além disso, muitas mulheres com SOP apresentam sintomas psicológicos, como ansiedade e depressão, devido às disfunções hormonais e ao impacto da doença na qualidade de vida. O CBD, ao regular a neurotransmissão serotoninérgica e reduzir a resposta ao estresse, pode representar uma alternativa terapêutica segura para esse grupo de pacientes (Shannon et al., 2019).

Dismenorreia e o Papel dos Canabinoides na Dor Menstrual

A dismenorreia primária, caracterizada por dor intensa durante o ciclo menstrual, está associada ao aumento da produção de prostaglandinas inflamatórias, resultando em contrações uterinas dolorosas. O THC, ao ativar os receptores CB1, promove relaxamento muscular e alívio da dor, enquanto o CBD inibe a atividade da enzima FAAH, prolongando a ação analgésica da anandamida (Russo, 2016). Ensaios clínicos sugerem que mulheres que utilizam Cannabis medicinal relatam uma redução na intensidade da dor menstrual, com eficácia comparável a anti-inflamatórios não esteroides (AINES), porém com menos efeitos colaterais gastrointestinais (Gaspari et al., 2020).

Cannabis e a Menopausa

A menopausa está associada a uma redução dos níveis de estrogênio, resultando em sintomas como insônia, mudanças de humor, ondas de calor e osteoporose. O SEC desempenha um papel crítico na regulação da neurotransmissão e da resposta ao estresse, e a modulação desse sistema por canabinoides pode auxiliar no controle dos sintomas neurovegetativos da menopausa (Perucca, 2017).

Pesquisas indicam que o CBD pode atuar como um ansiolítico natural, reduzindo os sintomas depressivos e melhorando a qualidade do sono. Além disso, o THC pode ajudar no controle térmico e na regulação do humor, proporcionando alívio para mulheres que sofrem com ondas de calor e irritabilidade (Palazzoli et al., 2021). Outro benefício importante dos canabinoides na menopausa é a preservação da saúde óssea. Estudos sugerem que a ativação dos receptores CB2 nos osteoblastos e osteoclastos pode reduzir a perda óssea e ajudar na prevenção da osteoporose pós-menopausa (Mitchinson et al., 2023).

Conclusão

A Cannabis medicinal oferece uma abordagem inovadora e multidimensional para o cuidado da saúde da mulher, atuando na modulação da dor, inflamação, metabolismo hormonal e equilíbrio neuropsiquiátrico. Com um perfil de segurança favorável e suporte crescente na literatura científica, os fitocanabinoides representam uma alternativa terapêutica promissora para mulheres que sofrem de condições ginecológicas crônicas. No entanto, é fundamental que médicos e profissionais da saúde tenham conhecimento sobre as doses ideais, as interações medicamentosas e os perfis de segurança dos diferentes compostos canabinoides, garantindo um tratamento personalizado e eficaz para cada paciente.


Referências

  • Bouaziz, J. et al. "Endocannabinoid System Dysregulation in Women with Endometriosis." Pain, v. 158, n. 3, 2017.
  • Cortesi, M. et al. "The Role of PPAR-γ in Metabolic and Inflammatory Regulation in PCOS: Could CBD Be a Potential Treatment?" Journal of Clinical Endocrinology & Metabolism, v. 104, n. 2, 2019.
  • Gaspari, S. et al. "The Endocannabinoid System in the Pathophysiology and Treatment of Female Reproductive Disorders." International Journal of Molecular Sciences, v. 21, n. 16, 2020.
  • Mendelson, M. et al. "Cannabinoids and Insulin Sensitivity in Polycystic Ovary Syndrome." Metabolism, v. 134, 2022.
  • Mitchinson, A. et al. "Endocannabinoid Signaling and Chronic Pelvic Pain: A Systematic Review." Pain Reports, v. 8, n. 1, 2023.
  • Palazzoli, F. et al. "Cannabinoids and Women's Health: A Review of the Literature." Journal of Women's Health, v. 30, n. 7, 2021.
  • Perucca, E. "Cannabinoids in the Treatment of Epilepsy: Hard Evidence at Last?" Journal of Epilepsy Research, v. 7, n. 2, 2017.
  • Russo, E. B. "Clinical Endocannabinoid Deficiency (CECD): Can This Concept Explain Therapeutic Benefits of Cannabis?" Cannabis and Cannabinoid Research, v. 1, n. 1, 2016.
  • Shannon, S. et al. "Cannabidiol in Anxiety and Sleep: A Large Case Series." The Permanente Journal, v. 23, 2019.

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