quinta-feira, 25 de julho de 2024

A Cannabis Medicinal e o Aleitamento Materno


No contexto da gestação e amamentação, o aleitamento materno fortalece significativamente o sistema imunológico do bebê, previne alterações gastrointestinais e respiratórias e reduz a mortalidade infantil. Além disso, o leite materno é perfeitamente adaptado às necessidades nutricionais específicas do bebê, promovendo um desenvolvimento saudável. Contudo, é fundamental considerar que substâncias presentes no corpo da mãe podem ser transferidas ao bebê através do leite materno, assim como durante a gestação. Diante disso, surge uma questão fundamental: é seguro prescrever canabidiol (CBD) durante a gestação e a amamentação? Este post abordará essa questão em detalhe, analisando os potenciais riscos e benefícios.

Embora o CBD seja considerado seguro, seus efeitos em populações vulneráveis, como gestantes, lactantes e neonatos, ainda precisam de mais estudos. Com o reconhecimento crescente dos potenciais terapêuticos da Cannabis e sua integração como uma terapia complementar em diversos contextos clínicos, compreender profundamente as implicações do CBD na prática clínica torna-se essencial. É crucial orientar os pacientes de forma segura e tecnicamente apropriada em relação ao uso de CBD em diferentes contextos clínicos, especialmente durante a gestação e amamentação.

A segurança do uso de CBD durante a gestação e a amamentação é um campo de estudo emergente e ainda insuficientemente explorado. Com o crescente interesse pelo canabidiol como terapia alternativa, especialmente em casos onde as terapias convencionais frequentemente falham ou apresentam efeitos colaterais indesejados, torna-se essencial avaliar minuciosamente suas implicações. Os principais pontos de atenção incluem:

  • Transferência para o Leite Materno: Há evidências de que fitocanabinoides, incluindo o CBD, podem ser excretados no leite materno. Estudos limitados indicam que compostos da Cannabis são detectáveis no leite materno por até seis dias após o uso. No entanto, a concentração de CBD e sua biodisponibilidade para o neonato ainda são questões abertas que necessitam de maiores esclarecimentos.
  • Evidências Clínicas e Pré-Clínicas: Até o momento, os dados disponíveis são insuficientes para uma conclusão definitiva. Estudos em modelos animais e observações clínicas sugerem que o uso de CBD por mães gestantes e lactantes não resulta em efeitos adversos significativos em seus bebês. No entanto, a ausência de estudos longitudinalmente robustos impede uma avaliação completa dos possíveis riscos a longo prazo.
  • Riscos Potenciais: Sem dados concretos, os riscos potenciais para o desenvolvimento neurológico e outros sistemas corporais do neonato permanecem desconhecidos. Sabemos que o THC, um componente psicoativo da Cannabis, pode afetar negativamente o desenvolvimento do sistema nervoso. Embora o CBD não possua as mesmas propriedades psicotrópicas, a falta de pesquisa específica sobre seu impacto a longo prazo é uma preocupação válida.

O sistema endocanabinoide (SEC) é um modulador crucial da homeostase no corpo humano, influenciando funções como sono, apetite, dor e resposta ao estresse. O CBD atua modulando os receptores canabinoides CB1 e CB2, bem como outros receptores não canabinoides, como o receptor de serotonina 5-HT1A. Esta interação complexa pode explicar os efeitos ansiolíticos, analgésicos e anti-inflamatórios observados em estudos pré-clínicos e clínicos. No entanto, o uso de derivados da cannabis durante a gestação e lactação é um tema extremamente delicado e requer um posicionamento rigoroso. A orientação é prescrever derivados canabinoides apenas quando os potenciais terapêuticos superarem os riscos potenciais para o feto e a mãe, especialmente para contornar a refratariedade e os eventos adversos relacionados a outras opções medicamentosas. Exemplos de condições onde o uso de CBD poderia ser considerado incluem:

  • Epilepsia grave e refratária a outras drogas antiepilépticas (DAEs)
  • Transtornos psiquiátricos graves refratários e mal controlados, como:
  • Transtorno de Ansiedade Generalizada (TAG) em uso de múltiplos medicamentos;
  •  Transtorno depressivo com risco de suicídio;
  •  Transtorno de abuso de substâncias;
  • Transtornos psicóticos severos;
  • Transtorno Bipolar Afetivo;
  • Transtorno Obsessivo-Compulsivo;
  • Transtorno de Estresse Pós-Traumático.
  • Quadros de dor crônica incapacitante refratária a combinações medicamentosas diversas e intervenções cirúrgicas e minimamente invasivas.
Em conclusão, enquanto o potencial terapêutico do CBD é promissor, sua segurança e eficácia durante a gestação e amamentação ainda necessitam de validação científica robusta. A consulta com especialistas e o monitoramento cuidadoso são essenciais para garantir a saúde e o bem-estar tanto da mãe quanto do bebê. Além disso, é fundamental que os médicos se capacitem continuamente e tenham acesso a fontes científicas qualificadas e imparciais para estarem melhor preparados ao orientar seus pacientes.

Bibliografia:

Bertrand, K. A., Hanan, N. J., Honerkamp-Smith, G., Best, B. M., & Chambers, C. D. (2018). "Marijuana Use by Breastfeeding Mothers and Cannabinoid Concentrations in Breast Milk". Pediatrics, 142(3), e20181076.

National Institute on Drug Abuse (NIDA). (2020). "Is there a link between marijuana use and psychiatric disorders?". Disponível em: NIDA

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