Dor Crônica e Cannabis Medicinal
A dor crônica afeta aproximadamente 20,5% da população mundial, ou seja, dois bilhões de pessoas em todo o mundo¹. No Brasil, estima-se que pelo menos 37% da população brasileira, ou 60 milhões de pessoas, são acometidas pela doença¹. Os tratamentos medicamentosos convencionais geralmente possuem eficácia limitada e geralmente carregam sérios efeitos colaterais¹. Em busca de uma alternativa, muitos médicos e pacientes recorrem à Cannabis medicinal¹. A utilização da Cannabis medicinal tem sido objeto de crescente interesse como uma alternativa terapêutica para pacientes que sofrem de dor crônica de difícil controle. Esta matéria revisa a literatura científica mais recente, fornecendo uma análise abrangente das evidências clínicas que respaldam o uso da Cannabis medicinal no manejo da dor crônica refratária. Além disso, são discutidos os mecanismos neurobiológicos subjacentes, os desafios regulatórios e as considerações éticas associadas a essa abordagem terapêutica.
Benefícios da Cannabis para a Dor
A Cannabis medicinal contém diversos componentes químicos, incluindo mais de uma centena de canabinóides, além de outros ingredientes ativos, como os terpenos². São suas propriedades analgésicas, anti-inflamatórias, antifúngicas, antibactericida, osteoindutora, que tornam a cannabis tão benéfica para diversos tratamentos, entre eles, o da dor². Um estudo recente mostrou que, em comparação com o placebo, os medicamentos à base de cannabis fornecem alívio moderado substancial da dor, reduzindo sua intensidade e auxiliando no problema de sono e sofrimento psicológico². A Cannabis contém compostos bioativos, conhecidos como canabinoides, que interagem com o sistema endocanabinoide do corpo humano. Os receptores canabinoides, CB1 e CB2, estão amplamente distribuídos no sistema nervoso central e periférico, desempenhando um papel crucial na regulação da dor. Estudos recentes destacam a capacidade dos canabinoides em modular a percepção da dor por meio da inibição de neurotransmissores pró-nociceptivos.
Protocolos de Tratamento
Vinte especialistas em medicina canabinóides de nove países se uniram em busca de consenso sobre administração e dose de Cannabis medicinal para dor crônica¹. Juntos, por meio do consenso, usando um processo Delphi modificado em vários estágios, desenvolveram uma série de recomendações sobre dosagem e formas de administrar a Cannabis medicinal de maneira segura e efetiva¹. Ao final, desenvolveram três protocolos que podem servir de apoio ao iniciar o tratamento com Cannabis medicinal: um de rotina, um mais conservador e outro mais intenso¹.
Segurança da Cannabis medicinal
Ao contrário dos opioides, existem poucos receptores canabinoides nas áreas do tronco cerebral que controlam as funções vitais, como a respiração. Uma dose letal de THC para um ser humano de 70 kg é, portanto, estimada em aproximadamente 4.000 mg / kg de THC, que é uma dose de 280.000 mg de THC e provavelmente não alcançável com consumo oral, fumo ou vaporização.
Os médicos podem se sentir confortáveis em adaptar o regime de tratamento com Cannabis medicinal, sabendo que os pacientes não correm um risco significativo de morte por overdose.
No entanto, os riscos à saúde associados à Cannabis, incluindo o transtorno por uso de Cannabis e complicações resultantes dos efeitos psicoativos do THC, precisam ser considerados, mesmo em doses baixas. Este conceito é importante para a operação de veículos motorizados, bem como para atividades perigosas ocupacionais e recreativas.
Ao adicionar THC, o médico pode considerar iniciar a primeira dose à noite para limitar os problemas potenciais com o funcionamento no local de trabalho e direção. Além disso, o THC à noite pode melhorar a qualidade do sono e muitos pacientes com dor crônica sofrem de distúrbios do sono. Os pacientes frequentemente experimentam uma melhora na função como resultado da melhoria da qualidade do sono quando tratados com Cannabis medicinal.
“Esperamos que essas recomendações ajudem os médicos e pacientes a alcançar uma dosagem e administração seguras e eficazes de Cannabis medicinal. Futuros ensaios clínicos randomizados examinando a segurança e eficácia da Cannabis medicinal em comparação com os padrões atuais de tratamento serão necessários para elucidar se os protocolos desenvolvidos resultam em melhores resultados para os pacientes”, escreveram os autores.
“As recomendações fornecidas serão atualizadas à medida que novas evidências de ensaios clínicos se tornem disponíveis para informar sobre o tipo de dosagem e o modo de administração da Cannabis medicinal para o tratamento da dor crônica.”
Conclusão
A pesquisa atual sugere que a Cannabis medicinal pode representar uma opção terapêutica eficaz para pacientes com dor crônica de difícil controle. No entanto, são necessários mais estudos clínicos controlados, bem como uma abordagem regulatória mais consistente, para validar completamente sua eficácia e segurança. O equilíbrio entre os benefícios terapêuticos e os desafios éticos e regulatórios permanece como um campo crucial a ser explorado nesta área. A Cannabis medicinal apresenta-se como uma alternativa promissora para o tratamento de dores crônicas, com estudos indicando sua eficácia e segurança¹²³⁴. No entanto, é importante ressaltar que mais pesquisas são necessárias para entender completamente seus efeitos e potencial terapêutico.
(1) Especialistas definem protocolos para Cannabis no
tratamento da dor.
https://www.cannabisesaude.com.br/dosagem-cannabis-tratamento-dor/.
(2) Tratamento para dor crônica: como a cannabis pode
ajudar.
https://blog.drcannabis.com.br/tratamento-para-dor-cronica-como-a-cannabis-pode-ajudar/.
(3) Tratamento da dor crônica poderá incluir cannabis e psicodélicos. https://veja.abril.com.br/coluna/letra-de-medico/tratamento-da-dor-cronica-podera-incluir-cannabis-e-psicodelicos/.
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