Em 21 de junho, o Brasil volta sua atenção para o Dia Nacional de Luta Contra a Esclerose Lateral Amiotrófica (ELA), uma data de conscientização, apoio e reflexão sobre os desafios enfrentados por pacientes, familiares e profissionais de saúde diante desta complexa doença neurodegenerativa. A ELA, também conhecida como doença de Lou Gehrig, caracteriza-se pela degeneração progressiva dos neurônios motores no cérebro e na medula espinhal, levando à perda gradual do controle muscular voluntário. Embora ainda não haja cura, a busca por terapias que melhorem a qualidade de vida e ofereçam alívio sintomático é incessante. Nesse cenário, a Cannabis Medicinal tem emergido como um campo de investigação promissor, particularmente no manejo de sintomas debilitantes associados à ELA.
A jornada de um paciente com ELA é marcada por uma série de desafios físicos e emocionais. A fraqueza muscular progressiva pode afetar a capacidade de andar, falar, engolir e, eventualmente, respirar. Sintomas como espasticidade (rigidez muscular), cãibras dolorosas, fadiga, dificuldades na fala (disartria) e deglutição (disfagia), sialorreia (produção excessiva de saliva), distúrbios do sono, ansiedade e depressão são comuns e impactam significativamente o bem-estar. O tratamento padrão atual, centrado principalmente no Riluzol, oferece um modesto aumento na sobrevida, mas seu impacto na progressão da doença é limitado, especialmente em fases mais avançadas. Terapias de suporte, como fisioterapia, fonoaudiologia, terapia ocupacional e suporte nutricional, são fundamentais, mas a necessidade de abordagens complementares para o controle sintomático é evidente.
É neste contexto que o sistema endocanabinoide (SEC) e a interação com fitocanabinoides ganham relevância. O SEC, como discutido anteriormente em nosso artigo sobre imunidade, é um sistema regulador endógeno crucial para a manutenção da homeostase em múltiplos sistemas fisiológicos, incluindo o sistema nervoso central. Receptores canabinoides, especialmente os CB1, são abundantemente expressos em áreas do cérebro envolvidas no controle motor, dor, humor e apetite. Além disso, tanto receptores CB1 quanto CB2 são encontrados em células da glia, que desempenham papéis importantes na neuroinflamação, um processo implicado na patogênese da ELA. A capacidade do SEC de modular a neurotransmissão (incluindo a glutamatérgica, que se acredita ser excessiva na ELA), a inflamação e o estresse oxidativo confere-lhe um potencial terapêutico teórico em doenças neurodegenerativas.
Dados pré-clínicos, principalmente em modelos animais de ELA, sugerem que a modulação do SEC pode oferecer benefícios. Estudos demonstraram que compostos canabinoides, incluindo o THC e o CBD, podem exercer efeitos antioxidantes, anti-inflamatórios e neuroprotetores nesses modelos. Por exemplo, algumas pesquisas indicaram que o tratamento com canabinoides poderia retardar o início da doença, prolongar a sobrevida e melhorar a função motora em camundongos com mutações genéticas associadas à ELA familiar. Acredita-se que esses efeitos possam estar relacionados à capacidade dos canabinoides de reduzir a excitotoxicidade mediada pelo glutamato, diminuir a ativação microglial (neuroinflamação) e proteger os neurônios do estresse oxidativo.
No entanto, transpor esses achados pré-clínicos promissores para a prática clínica em humanos tem sido um desafio. A complexidade da ELA, sua heterogeneidade e a dificuldade em realizar ensaios clínicos de larga escala e longa duração em uma doença relativamente rara limitam a disponibilidade de evidências robustas. Atualmente, como apontado por fontes como o portal Cannabis & Saúde e pareceres como o da Associação Brasileira de Esclerose Lateral Amiotrófica (ABrELA), não existem evidências científicas conclusivas de que a Cannabis Medicinal atue como uma droga modificadora da doença em pacientes com ELA, ou seja, que ela possa efetivamente frear ou reverter a progressão da degeneração neuronal.
Apesar da ausência de comprovação como terapia modificadora da doença, o foco atual da aplicação da Cannabis Medicinal na ELA reside no seu potencial para o manejo sintomático. Muitos dos sintomas que afligem os pacientes com ELA podem, teoricamente e com base em evidências de outras condições neurológicas e relatos de caso, ser aliviados por canabinoides. A espasticidade e as cãibras dolorosas, por exemplo, são alvos potenciais, dado o conhecido efeito relaxante muscular de certos canabinoides, mediado em parte pela modulação de neurotransmissores no sistema nervoso central. A dor, seja ela neuropática ou musculoesquelética, também pode responder à terapia canabinoide, através de seus efeitos analgésicos e anti-inflamatórios.
A perda de apetite e a consequente perda de peso são problemas significativos na ELA. O THC é conhecido por seu efeito estimulante do apetite (orexígeno), o que poderia ser benéfico para alguns pacientes. Distúrbios do sono, como insônia, são frequentes e podem ser abordados com canabinoides que possuem propriedades sedativas ou ansiolíticas, como o CBD em doses adequadas ou combinações específicas com THC. A ansiedade e a depressão, comuns em pacientes que enfrentam uma doença tão grave, também podem ser alvos terapêuticos, com o CBD demonstrando potencial ansiolítico em diversos estudos. Até mesmo a sialorreia, embora menos estudada, poderia teoricamente ser influenciada pela modulação canabinoide das glândulas salivares.
É fundamental, contudo, abordar o uso da Cannabis Medicinal na ELA com cautela e sob estrita supervisão médica. A escolha do produto (proporção de CBD/THC, outros canabinoides e terpenos), a dose e a via de administração devem ser cuidadosamente individualizadas. A titulação lenta da dose é essencial para minimizar potenciais efeitos adversos, que podem incluir tontura, fadiga, boca seca ou efeitos psicoativos (principalmente com THC). Interações medicamentosas com outros fármacos utilizados pelo paciente também devem ser consideradas. O diálogo aberto entre médico, paciente e familiares é crucial para definir objetivos terapêuticos realistas, monitorar a eficácia e a segurança do tratamento e ajustar a abordagem conforme necessário.
Como ressaltado pela neurologista Christina Funatsu no artigo do Cannabis & Saúde e pelo parecer da ABrELA, embora a prescrição de Cannabis Medicinal para sintomas específicos na ELA seja uma possibilidade clínica válida, é vital gerenciar as expectativas. A esperança por melhora sintomática e qualidade de vida é legítima, mas a crença em uma cura ou reversão da doença, baseada em informações não comprovadas, pode gerar frustração e sofrimento psíquico.
Neste Dia Nacional de Luta Contra a ELA, reafirmamos a importância da pesquisa científica rigorosa para elucidar completamente o papel da Cannabis Medicinal nesta condição. Enquanto aguardamos por mais evidências, especialmente de ensaios clínicos bem controlados em humanos, o foco permanece no uso criterioso e informado para o alívio dos sintomas e a melhoria da qualidade de vida dos pacientes. A MedTech se compromete a apoiar a comunidade médica com informações atualizadas e produtos de qualidade, e a oferecer aos pacientes e familiares um recurso confiável para entender as complexidades e potencialidades da Cannabis Medicinal, sempre em colaboração com os profissionais de saúde.
Referências:
Redação Cannabis & Saúde. (2021, 21 de junho). Saiba tudo sobre o uso de Cannabis no tratamento de ELA. Cannabis & Saúde. https://www.cannabisesaude.com.br/cannabis-tratamento-ela/
Associação Brasileira de Esclerose Lateral Amiotrófica (ABrELA). (s.d.). Parecer ABrELA Cannabis. https://www.abrela.org.br/wp-content/uploads/2020/07/Parecer-ABrELA-Cannabis.pdf
Meyer, T., Funke, A., Münch, C., Kettemann, D., Maier, A., Walter, B., ... & Spittel, S. (2019). Real world experience of patients with amyotrophic lateral sclerosis (ALS) in the treatment of spasticity using tetrahydrocannabinol: cannabidiol (THC: CBD). BMC neurology, 19(1), 1-10.
Urbi, B., Broadley, S., Bedlack, R., & Sabet, A. (2023). Cannabinoids in Amyotrophic Lateral Sclerosis (ALS): A Review of Potential Mechanisms, Current Research, and Future Directions. Journal of Clinical Medicine, 12(13), 4479. https://doi.org/10.3390/jcm12134479
Alencar, J. L., Cavalcante, L. L. S., & Almeida, E. B. D. (2019). Revisão bibliográfica sobre o uso do canabidiol e do riluzol no tratamento da esclerose lateral amiotrófica. Repositório Digital Univag. https://www.repositoriodigital.univag.com.br/index.php/biomedicina/article/view/554
AMAME - Associação Médica Brasileira de Endocanabinologia. (s.d.). Esclerose Lateral Amiotrófica. https://amame.org.br/cannabis/esclerose-lateral-amiotrofica/
Em 21 de junho, o Brasil volta sua atenção para o Dia Nacional de Luta Contra a Esclerose Lateral Amiotrófica (ELA), uma data de conscientização, apoio e reflexão sobre os desafios enfrentados por pacientes, familiares e profissionais de saúde diante desta complexa doença neurodegenerativa. A ELA, também conhecida como doença de Lou Gehrig, caracteriza-se pela degeneração progressiva dos neurônios motores no cérebro e na medula espinhal, levando à perda gradual do controle muscular voluntário. Embora ainda não haja cura, a busca por terapias que melhorem a qualidade de vida e ofereçam alívio sintomático é incessante. Nesse cenário, a Cannabis Medicinal tem emergido como um campo de investigação promissor, particularmente no manejo de sintomas debilitantes associados à ELA.
A jornada de um paciente com ELA é marcada por uma série de desafios físicos e emocionais. A fraqueza muscular progressiva pode afetar a capacidade de andar, falar, engolir e, eventualmente, respirar. Sintomas como espasticidade (rigidez muscular), cãibras dolorosas, fadiga, dificuldades na fala (disartria) e deglutição (disfagia), sialorreia (produção excessiva de saliva), distúrbios do sono, ansiedade e depressão são comuns e impactam significativamente o bem-estar. O tratamento padrão atual, centrado principalmente no Riluzol, oferece um modesto aumento na sobrevida, mas seu impacto na progressão da doença é limitado, especialmente em fases mais avançadas. Terapias de suporte, como fisioterapia, fonoaudiologia, terapia ocupacional e suporte nutricional, são fundamentais, mas a necessidade de abordagens complementares para o controle sintomático é evidente.
É neste contexto que o sistema endocanabinoide (SEC) e a interação com fitocanabinoides ganham relevância. O SEC, como discutido anteriormente em nosso artigo sobre imunidade, é um sistema regulador endógeno crucial para a manutenção da homeostase em múltiplos sistemas fisiológicos, incluindo o sistema nervoso central. Receptores canabinoides, especialmente os CB1, são abundantemente expressos em áreas do cérebro envolvidas no controle motor, dor, humor e apetite. Além disso, tanto receptores CB1 quanto CB2 são encontrados em células da glia, que desempenham papéis importantes na neuroinflamação, um processo implicado na patogênese da ELA. A capacidade do SEC de modular a neurotransmissão (incluindo a glutamatérgica, que se acredita ser excessiva na ELA), a inflamação e o estresse oxidativo confere-lhe um potencial terapêutico teórico em doenças neurodegenerativas.
Dados pré-clínicos, principalmente em modelos animais de ELA, sugerem que a modulação do SEC pode oferecer benefícios. Estudos demonstraram que compostos canabinoides, incluindo o THC e o CBD, podem exercer efeitos antioxidantes, anti-inflamatórios e neuroprotetores nesses modelos. Por exemplo, algumas pesquisas indicaram que o tratamento com canabinoides poderia retardar o início da doença, prolongar a sobrevida e melhorar a função motora em camundongos com mutações genéticas associadas à ELA familiar. Acredita-se que esses efeitos possam estar relacionados à capacidade dos canabinoides de reduzir a excitotoxicidade mediada pelo glutamato, diminuir a ativação microglial (neuroinflamação) e proteger os neurônios do estresse oxidativo.
No entanto, transpor esses achados pré-clínicos promissores para a prática clínica em humanos tem sido um desafio. A complexidade da ELA, sua heterogeneidade e a dificuldade em realizar ensaios clínicos de larga escala e longa duração em uma doença relativamente rara limitam a disponibilidade de evidências robustas. Atualmente, como apontado por fontes como o portal Cannabis & Saúde e pareceres como o da Associação Brasileira de Esclerose Lateral Amiotrófica (ABrELA), não existem evidências científicas conclusivas de que a Cannabis Medicinal atue como uma droga modificadora da doença em pacientes com ELA, ou seja, que ela possa efetivamente frear ou reverter a progressão da degeneração neuronal.
Apesar da ausência de comprovação como terapia modificadora da doença, o foco atual da aplicação da Cannabis Medicinal na ELA reside no seu potencial para o manejo sintomático. Muitos dos sintomas que afligem os pacientes com ELA podem, teoricamente e com base em evidências de outras condições neurológicas e relatos de caso, ser aliviados por canabinoides. A espasticidade e as cãibras dolorosas, por exemplo, são alvos potenciais, dado o conhecido efeito relaxante muscular de certos canabinoides, mediado em parte pela modulação de neurotransmissores no sistema nervoso central. A dor, seja ela neuropática ou musculoesquelética, também pode responder à terapia canabinoide, através de seus efeitos analgésicos e anti-inflamatórios.
A perda de apetite e a consequente perda de peso são problemas significativos na ELA. O THC é conhecido por seu efeito estimulante do apetite (orexígeno), o que poderia ser benéfico para alguns pacientes. Distúrbios do sono, como insônia, são frequentes e podem ser abordados com canabinoides que possuem propriedades sedativas ou ansiolíticas, como o CBD em doses adequadas ou combinações específicas com THC. A ansiedade e a depressão, comuns em pacientes que enfrentam uma doença tão grave, também podem ser alvos terapêuticos, com o CBD demonstrando potencial ansiolítico em diversos estudos. Até mesmo a sialorreia, embora menos estudada, poderia teoricamente ser influenciada pela modulação canabinoide das glândulas salivares.
É fundamental, contudo, abordar o uso da Cannabis Medicinal na ELA com cautela e sob estrita supervisão médica. A escolha do produto (proporção de CBD/THC, outros canabinoides e terpenos), a dose e a via de administração devem ser cuidadosamente individualizadas. A titulação lenta da dose é essencial para minimizar potenciais efeitos adversos, que podem incluir tontura, fadiga, boca seca ou efeitos psicoativos (principalmente com THC). Interações medicamentosas com outros fármacos utilizados pelo paciente também devem ser consideradas. O diálogo aberto entre médico, paciente e familiares é crucial para definir objetivos terapêuticos realistas, monitorar a eficácia e a segurança do tratamento e ajustar a abordagem conforme necessário.
Como ressaltado pela neurologista Christina Funatsu no artigo do Cannabis & Saúde e pelo parecer da ABrELA, embora a prescrição de Cannabis Medicinal para sintomas específicos na ELA seja uma possibilidade clínica válida, é vital gerenciar as expectativas. A esperança por melhora sintomática e qualidade de vida é legítima, mas a crença em uma cura ou reversão da doença, baseada em informações não comprovadas, pode gerar frustração e sofrimento psíquico.
Neste Dia Nacional de Luta Contra a ELA, reafirmamos a importância da pesquisa científica rigorosa para elucidar completamente o papel da Cannabis Medicinal nesta condição. Enquanto aguardamos por mais evidências, especialmente de ensaios clínicos bem controlados em humanos, o foco permanece no uso criterioso e informado para o alívio dos sintomas e a melhoria da qualidade de vida dos pacientes. A MedTech se compromete a apoiar a comunidade médica com informações atualizadas e produtos de qualidade, e a oferecer aos pacientes e familiares um recurso confiável para entender as complexidades e potencialidades da Cannabis Medicinal, sempre em colaboração com os profissionais de saúde.
Referências:
Redação Cannabis & Saúde. (2021, 21 de junho). Saiba tudo sobre o uso de Cannabis no tratamento de ELA. Cannabis & Saúde. https://www.cannabisesaude.com.br/cannabis-tratamento-ela/
Associação Brasileira de Esclerose Lateral Amiotrófica (ABrELA). (s.d.). Parecer ABrELA Cannabis. https://www.abrela.org.br/wp-content/uploads/2020/07/Parecer-ABrELA-Cannabis.pdf
Meyer, T., Funke, A., Münch, C., Kettemann, D., Maier, A., Walter, B., ... & Spittel, S. (2019). Real world experience of patients with amyotrophic lateral sclerosis (ALS) in the treatment of spasticity using tetrahydrocannabinol: cannabidiol (THC: CBD). BMC neurology, 19(1), 1-10.
Urbi, B., Broadley, S., Bedlack, R., & Sabet, A. (2023). Cannabinoids in Amyotrophic Lateral Sclerosis (ALS): A Review of Potential Mechanisms, Current Research, and Future Directions. Journal of Clinical Medicine, 12(13), 4479. https://doi.org/10.3390/jcm12134479
Alencar, J. L., Cavalcante, L. L. S., & Almeida, E. B. D. (2019). Revisão bibliográfica sobre o uso do canabidiol e do riluzol no tratamento da esclerose lateral amiotrófica. Repositório Digital Univag. https://www.repositoriodigital.univag.com.br/index.php/biomedicina/article/view/554
AMAME - Associação Médica Brasileira de Endocanabinologia. (s.d.). Esclerose Lateral Amiotrófica. https://amame.org.br/cannabis/esclerose-lateral-amiotrofica/