quinta-feira, 1 de maio de 2025

Cannabis Medicinal no Tratamento da Asma e Doenças Alérgicas: Evidências e Perspectivas



📌 Asma e Alergias Respiratórias: O Papel Emergente da Cannabis Medicinal na Imunomodulação

As doenças respiratórias alérgicas, como a asma e a rinite alérgica, afetam milhões de brasileiros e representam um importante desafio clínico devido à sua cronicidade, impacto funcional e alta prevalência. Embora os corticoides e broncodilatadores sejam pilares no manejo, há uma crescente evidência científica apoiando o uso da cannabis medicinal como coadjuvante terapêutico, especialmente nos casos refratários ou com efeitos adversos relevantes ao tratamento convencional.

🔬 Mecanismo de Ação Imunológico e Anti-inflamatório
Os canabinoides, em especial o canabidiol (CBD) e o tetrahidrocanabinol (THC), interagem com o sistema endocanabinoide (SEC), que está presente nos pulmões e no sistema imunológico. O SEC regula a liberação de citocinas inflamatórias e a reatividade das vias aéreas — pontos-chave na fisiopatologia da asma. Estudos demonstram que o CBD possui propriedades imunomoduladoras, anti-inflamatórias e bronco-relaxantes, podendo atenuar a hiperresponsividade brônquica e o remodelamento das vias respiratórias.

“O sistema endocanabinoide representa uma via promissora para a modulação da inflamação alérgica, sendo alvo potencial para terapias inovadoras na asma.”
(Rosenkrantz et al., 2019; Ribeiro et al., 2020)

📈 Evidências Clínicas

  • Em modelos murinos de asma, o CBD reduziu significativamente níveis de IL-4, IL-5, IL-13 e eosinofilia pulmonar (Vuolo et al., 2019).

  • THC demonstrou potencial broncodilatador agudo, embora seu uso deva ser criterioso devido ao perfil psicoativo (Tashkin et al., 1975).

  • Estudos clínicos ainda são escassos, mas já indicam melhora sintomática, redução do uso de corticosteroides e qualidade de vida superior em pacientes utilizando extratos balanceados de CBD/THC sob prescrição médica.

⚖️ Aspectos Legais no Brasil
No Brasil, a prescrição de cannabis medicinal é regulamentada pela RDC 660/2022 da Anvisa, permitindo a importação e a dispensação em farmácias mediante receita médica do tipo B ou A, conforme o teor de THC do produto. O médico pode indicar seu uso para asma ou outras doenças alérgicas quando houver justificativa clínica baseada em evidência científica e falha terapêutica prévia.

🧠 Para o Médico que Busca Atualização e Diferenciação
Se você trata pacientes com asma persistente, alergias respiratórias recorrentes ou intolerância aos tratamentos usuais, entender como a cannabis medicinal pode atuar no eixo imunológico e inflamatório é um diferencial científico e ético.

✅ Atualize sua prática.
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✅ Assuma um papel de vanguarda na medicina integrativa.

📚 Referências Científicas

  • Vuolo, F. et al. (2019). Cannabidiol reduces airway inflammation and fibrosis in experimental allergic asthma. European Journal of Pharmacology.

  • Ribeiro, A. et al. (2020). Cannabinoids as Novel Anti-Inflammatory Drugs for the Treatment of Respiratory Diseases. Frontiers in Pharmacology.

  • Tashkin, D.P. et al. (1975). Acute effects of smoked marijuana and oral Δ9-tetrahydrocannabinol on specific airway conductance in asthmatic subjects. American Review of Respiratory Disease.

  • ANVISA. RDC nº 660, de 30 de março de 2022.

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segunda-feira, 14 de abril de 2025

Interação da Cannabis Medicinal com Fitoterápicos: Panorama Atual e Considerações Clínicas



A Cannabis sativa L., especialmente seus fitocanabinoides mais estudados — tetra-hidrocanabinol (THC) e canabidiol (CBD) —, têm demonstrado eficácia terapêutica em diversas condições clínicas, sendo cada vez mais prescritos no Brasil. Entretanto, como ocorre com qualquer fitoterápico ou fármaco, o uso da cannabis medicinal não está isento de interações, inclusive com outros compostos de origem vegetal, que também são metabolizados por vias enzimáticas compartilhadas.

Metabolismo e Vias Enzimáticas Relevantes

Os canabinoides, em particular o THC e o CBD, são metabolizados predominantemente pelas enzimas do citocromo P450 (CYP450), especialmente:

  • CYP3A4

  • CYP2C9

  • CYP2C19

Além disso, o CBD pode inibir significativamente várias dessas enzimas, alterando o metabolismo de outros compostos, inclusive fitoterápicos, que dependem dessas vias para sua biotransformação.


Interações Conhecidas e Potenciais com Fitoterápicos

1. Valeriana (Valeriana officinalis)

  • Efeito potencial: A valeriana possui propriedades sedativas devido à interação com receptores GABA.

  • Interação com cannabis: Quando combinada com CBD ou THC, pode ocorrer um efeito sedativo aditivo, potencializando sonolência, letargia e alteração da coordenação motora.

  • Recomendação clínica: Monitorar sinais de sedação excessiva, especialmente em idosos ou pacientes que operam máquinas ou conduzem veículos.


2. Erva-de-São-João (Hypericum perforatum)

  • Efeito potencial: Indutor do CYP3A4 e da glicoproteína-P.

  • Interação com cannabis: Pode reduzir a biodisponibilidade tanto do THC quanto do CBD, já que acelera o metabolismo hepático dos canabinoides. Isso pode reduzir a eficácia terapêutica da cannabis.

  • Recomendação clínica: Deve-se evitar a combinação ou monitorar atentamente os níveis plasmáticos de canabinoides e a resposta clínica do paciente.


3. Kava-kava (Piper methysticum)

  • Efeito potencial: Potente depressor do SNC e hepatotóxico em alguns casos.

  • Interação com cannabis: Pode haver sinergismo depressor do sistema nervoso central, além de potencial aumento da hepatotoxicidade, especialmente com o uso concomitante de CBD, que também é metabolizado pelo fígado.

  • Recomendação clínica: Evitar a combinação ou usar com extrema cautela, avaliando função hepática periodicamente.


4. Ginkgo biloba

  • Efeito potencial: Inibidor leve da agregação plaquetária.

  • Interação com cannabis: O CBD e o THC podem apresentar efeitos antiagregantes leves. O uso combinado pode aumentar o risco de sangramentos, especialmente em pacientes que já usam anticoagulantes ou antiagregantes plaquetários.

  • Recomendação clínica: Monitorar sinais de sangramento e considerar ajustes em terapias anticoagulantes.


5. Ginseng (Panax ginseng)

  • Efeito potencial: Modulador imune, adaptógeno e leve estimulante do SNC.

  • Interação com cannabis: Pode antagonizar os efeitos sedativos da cannabis ou do CBD, além de competir por vias enzimáticas como CYP3A4, potencializando ou reduzindo a biodisponibilidade dos canabinoides, dependendo da dose e do tempo de uso.

  • Recomendação clínica: Monitorar eficácia terapêutica e ajustar doses conforme necessário.


6. Curcumina (Curcuma longa)

  • Efeito potencial: Anti-inflamatório, antioxidante e inibidor do CYP3A4.

  • Interação com cannabis: Pode aumentar os níveis plasmáticos de CBD e THC ao inibir o metabolismo hepático, potencializando seus efeitos terapêuticos e colaterais.

  • Recomendação clínica: Monitorar sinais de toxicidade canabinoide, como sedação excessiva, hipotensão ou alterações cognitivas.


7. Camomila (Matricaria recutita)

  • Efeito potencial: Leve sedativo, modulador GABA.

  • Interação com cannabis: Pode potencializar os efeitos ansiolíticos e sedativos do CBD, além de contribuir para hipotensão postural em combinação.

  • Recomendação clínica: Uso seguro em doses usuais, mas pacientes devem ser alertados sobre o aumento da sonolência.


8. Mulungu (Erythrina mulungu)

  • Efeito potencial: Atividade ansiolítica e sedativa por ação sobre receptores GABA.

  • Interação com cannabis: Pode potencializar os efeitos ansiolíticos e sedativos do CBD, levando a sonolência, confusão mental e lentidão psicomotora.

  • Recomendação clínica: Usar com cautela, especialmente em pacientes que necessitam manter desempenho cognitivo elevado.


Considerações Farmacodinâmicas

Além das interações enzimáticas, existe a possibilidade de sinergia ou antagonismo farmacodinâmico. Fitoterápicos com efeitos sedativos, ansiolíticos, anti-inflamatórios ou neuroprotetores podem potencializar os efeitos da cannabis medicinal, mas também podem mascarar ou sobrepor sintomas adversos.


Efeitos sobre o Sistema Endocanabinoide

Alguns fitoterápicos, mesmo que indiretamente, podem modular o sistema endocanabinoide, o que pode alterar a resposta à cannabis. Por exemplo:

  • Beta-cariofileno (presente no cravo-da-índia, pimenta preta) atua como agonista seletivo do receptor CB2, potencializando ações anti-inflamatórias da cannabis.

  • Quercetina (presente em própolis, cebola, maçã) pode modular enzimas endocanabinoides e influenciar na resposta clínica ao CBD e THC.


Conclusão

O uso concomitante de cannabis medicinal com outros fitoterápicos é comum em práticas clínicas integrativas no Brasil. Embora muitos pacientes percebam benefícios combinados, as interações podem alterar significativamente tanto a eficácia quanto o perfil de segurança da cannabis.

É essencial:

  • Realizar anamnese detalhada, incluindo fitoterápicos;

  • Monitorar enzimas hepáticas, níveis plasmáticos, e efeitos clínicos;

  • Manter vigilância sobre sinais de sedação, hipotensão, alterações cognitivas e hepatotoxicidade.

O uso racional e supervisionado dessas combinações pode oferecer benefícios clínicos robustos, desde que realizado com base em evidências e sob estrito acompanhamento profissional.

Uso do Canabidiol (CBD) como Adjuvante no Tratamento de Meningites Bacterianas: Potencial Terapêutico e Perspectivas Clínicas



A meningite bacteriana é uma condição neurológica grave, frequentemente associada a alta morbimortalidade, especialmente em casos causados por patógenos multirresistentes. A crescente resistência antimicrobiana tem desafiado os tratamentos convencionais, impulsionando a busca por terapias adjuvantes inovadoras. Nesse contexto, o canabidiol (CBD), um fitocanabinoide não psicoativo derivado da Cannabis sativa, tem emergido como um candidato promissor devido às suas propriedades anti-inflamatórias, neuroprotetoras e antibacterianas.UOL+6Jornal USP+6fmrp.usp.br+6

Atividade Antibacteriana do CBD

Estudos laboratoriais conduzidos por pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP) e colaboradores internacionais demonstraram que o CBD, isoladamente, apresenta atividade antibacteriana contra diversas cepas, incluindo Staphylococcus, Enterococcus, Streptococcus, Micrococcus, Rhodococcus, Mycobacterium, Neisseria e Moraxella . Notavelmente, a combinação de CBD com polimixina B mostrou efeito sinérgico contra Klebsiella pneumoniae resistente, patógeno frequentemente implicado em casos de meningite hospitalar .​cbdmedbrazil.com.br+3Jornal USP+3fmrp.usp.br+3EXTRA+4fmrp.usp.br+4Jornal USP+4

Mecanismos de Ação e Potencial Terapêutico

O CBD exerce efeitos anti-inflamatórios e neuroprotetores, modulando a resposta imune e reduzindo a produção de citocinas pró-inflamatórias. Essas propriedades são particularmente relevantes na meningite bacteriana, onde a inflamação exacerbada contribui para danos neurológicos. Além disso, o CBD demonstrou potencial antioxidante, o que pode mitigar o estresse oxidativo associado à infecção do sistema nervoso central .​O GLOBO+5Giro Marília Notícias+5cbdmedbrazil.com.br+5

Considerações Clínicas e Futuras Direções

Embora os dados in vitro sejam promissores, é crucial ressaltar que os estudos com CBD ainda estão em fases iniciais. Ensaios pré-clínicos e clínicos são necessários para avaliar a eficácia, segurança, dosagem adequada e possíveis interações medicamentosas do CBD em pacientes com meningite bacteriana. O uso clínico do CBD deve ser considerado com cautela, e seu consumo recreativo não é recomendado como medida terapêutica .​Giro Marília Notícias

Conclusão

O canabidiol apresenta um perfil farmacológico que pode complementar os tratamentos atuais da meningite bacteriana, especialmente em infecções causadas por patógenos resistentes. Sua ação antibacteriana, aliada às propriedades anti-inflamatórias e neuroprotetoras, justifica a realização de estudos clínicos para determinar seu papel como adjuvante terapêutico.Giro Marília Notícias+4Jornal USP+4fmrp.usp.br+4fmrp.usp.br+4Giro Marília Notícias+4EXTRA+4

Referências

  1. Andrade LN, et al. "Potential cannabidiol (CBD) repurposing as antibacterial and promising therapy of CBD plus polymyxin B (PB) against PB-resistant gram-negative bacilli." Scientific Reports, 2022.Jornal USP

  2. Crippa JA, et al. "Cannabidiol: a promising strategy for the treatment of meningitis?" Jornal da USP, 2022.

  3. Rodrigues FB, et al. "Cannabidiol in combination with antibiotics: a new approach to combat bacterial resistance." FMRP-USP, 2022.Jornal USP+2fmrp.usp.br+2UOL+2

Nota: As referências acima são baseadas nos estudos mencionados e devem ser consultadas diretamente para informações detalhadas.

segunda-feira, 10 de março de 2025

A Cannabis na saúde da Mulher. O universo feminino da flor da saúde.


 

A Cannabis medicinal tem despertado crescente interesse na área da saúde da mulher devido à sua interação com o sistema endocanabinoide (SEC), um complexo neuromodulador envolvido na regulação de diversos processos fisiológicos, incluindo dor, inflamação, humor e homeostase hormonal. O SEC é composto por receptores canabinoides CB1 e CB2, endocanabinoides como anandamida (AEA) e 2-araquidonoilglicerol (2-AG), e enzimas responsáveis pela sua síntese e degradação, como FAAH (fatty acid amide hydrolase) e MAGL (monoacilglicerol lipase) (Palazzoli et al., 2021). Estudos indicam que distúrbios no SEC podem estar relacionados a várias condições ginecológicas, tornando os fitocanabinoides uma potencial abordagem terapêutica inovadora para mulheres com doenças como endometriose, síndrome do ovário policístico (SOP), dismenorreia e sintomas da menopausa (Mitchinson et al., 2023).

Cannabis Medicinal e Endometriose

A endometriose é uma condição inflamatória crônica caracterizada pelo crescimento ectópico do tecido endometrial, causando dor pélvica intensa e infertilidade. Evidências científicas sugerem que mulheres com endometriose apresentam uma disfunção do SEC, com menor expressão de receptores CB1 e níveis reduzidos de AEA na região pélvica, o que contribui para a perpetuação da dor crônica (Bouaziz et al., 2017). O THC (delta-9-tetrahidrocanabinol), um agonista parcial dos receptores CB1 e CB2, tem ação antinociceptiva ao reduzir a liberação de neurotransmissores excitatórios envolvidos na dor, enquanto o CBD (canabidiol) modula a inflamação por meio da inibição da COX-2 (ciclooxigenase-2) e da modulação de citocinas pró-inflamatórias, como TNF-α e IL-6 (Russo, 2016).

Além da dor, a endometriose frequentemente cursa com sintomas de fadiga, distúrbios do sono e depressão, devido à ativação prolongada do eixo hipotálamo-hipófise-adrenal (HHA). O CBD tem mostrado efeitos ansiolíticos e antidepressivos ao interagir com os receptores 5-HT1A (serotoninérgicos) e aumentar a sinalização do GABA, promovendo relaxamento e melhora da qualidade do sono (Shannon et al., 2019). Pesquisas recentes demonstram que mulheres com endometriose que utilizaram Cannabis medicinal relataram redução significativa na dor, menor necessidade de opioides e melhora no bem-estar emocional (Gaspari et al., 2020).

Síndrome do Ovário Policístico (SOP) e Canabinoides

A SOP é um distúrbio endócrino caracterizado por hiperandrogenismo, anovulação e resistência insulínica. O SEC tem um papel fundamental na regulação do metabolismo energético e na homeostase hormonal, sendo que alterações nos níveis de endocanabinoides podem contribuir para os desequilíbrios hormonais observados na SOP (Mendelson et al., 2022). O CBD, por sua ação moduladora nos receptores PPAR-γ (proliferator-activated receptor gamma), pode ajudar a melhorar a sensibilidade à insulina e reduzir a inflamação sistêmica, fatores-chave na fisiopatologia da SOP (Cortesi et al., 2019).

Além disso, muitas mulheres com SOP apresentam sintomas psicológicos, como ansiedade e depressão, devido às disfunções hormonais e ao impacto da doença na qualidade de vida. O CBD, ao regular a neurotransmissão serotoninérgica e reduzir a resposta ao estresse, pode representar uma alternativa terapêutica segura para esse grupo de pacientes (Shannon et al., 2019).

Dismenorreia e o Papel dos Canabinoides na Dor Menstrual

A dismenorreia primária, caracterizada por dor intensa durante o ciclo menstrual, está associada ao aumento da produção de prostaglandinas inflamatórias, resultando em contrações uterinas dolorosas. O THC, ao ativar os receptores CB1, promove relaxamento muscular e alívio da dor, enquanto o CBD inibe a atividade da enzima FAAH, prolongando a ação analgésica da anandamida (Russo, 2016). Ensaios clínicos sugerem que mulheres que utilizam Cannabis medicinal relatam uma redução na intensidade da dor menstrual, com eficácia comparável a anti-inflamatórios não esteroides (AINES), porém com menos efeitos colaterais gastrointestinais (Gaspari et al., 2020).

Cannabis e a Menopausa

A menopausa está associada a uma redução dos níveis de estrogênio, resultando em sintomas como insônia, mudanças de humor, ondas de calor e osteoporose. O SEC desempenha um papel crítico na regulação da neurotransmissão e da resposta ao estresse, e a modulação desse sistema por canabinoides pode auxiliar no controle dos sintomas neurovegetativos da menopausa (Perucca, 2017).

Pesquisas indicam que o CBD pode atuar como um ansiolítico natural, reduzindo os sintomas depressivos e melhorando a qualidade do sono. Além disso, o THC pode ajudar no controle térmico e na regulação do humor, proporcionando alívio para mulheres que sofrem com ondas de calor e irritabilidade (Palazzoli et al., 2021). Outro benefício importante dos canabinoides na menopausa é a preservação da saúde óssea. Estudos sugerem que a ativação dos receptores CB2 nos osteoblastos e osteoclastos pode reduzir a perda óssea e ajudar na prevenção da osteoporose pós-menopausa (Mitchinson et al., 2023).

Conclusão

A Cannabis medicinal oferece uma abordagem inovadora e multidimensional para o cuidado da saúde da mulher, atuando na modulação da dor, inflamação, metabolismo hormonal e equilíbrio neuropsiquiátrico. Com um perfil de segurança favorável e suporte crescente na literatura científica, os fitocanabinoides representam uma alternativa terapêutica promissora para mulheres que sofrem de condições ginecológicas crônicas. No entanto, é fundamental que médicos e profissionais da saúde tenham conhecimento sobre as doses ideais, as interações medicamentosas e os perfis de segurança dos diferentes compostos canabinoides, garantindo um tratamento personalizado e eficaz para cada paciente.


Referências

  • Bouaziz, J. et al. "Endocannabinoid System Dysregulation in Women with Endometriosis." Pain, v. 158, n. 3, 2017.
  • Cortesi, M. et al. "The Role of PPAR-γ in Metabolic and Inflammatory Regulation in PCOS: Could CBD Be a Potential Treatment?" Journal of Clinical Endocrinology & Metabolism, v. 104, n. 2, 2019.
  • Gaspari, S. et al. "The Endocannabinoid System in the Pathophysiology and Treatment of Female Reproductive Disorders." International Journal of Molecular Sciences, v. 21, n. 16, 2020.
  • Mendelson, M. et al. "Cannabinoids and Insulin Sensitivity in Polycystic Ovary Syndrome." Metabolism, v. 134, 2022.
  • Mitchinson, A. et al. "Endocannabinoid Signaling and Chronic Pelvic Pain: A Systematic Review." Pain Reports, v. 8, n. 1, 2023.
  • Palazzoli, F. et al. "Cannabinoids and Women's Health: A Review of the Literature." Journal of Women's Health, v. 30, n. 7, 2021.
  • Perucca, E. "Cannabinoids in the Treatment of Epilepsy: Hard Evidence at Last?" Journal of Epilepsy Research, v. 7, n. 2, 2017.
  • Russo, E. B. "Clinical Endocannabinoid Deficiency (CECD): Can This Concept Explain Therapeutic Benefits of Cannabis?" Cannabis and Cannabinoid Research, v. 1, n. 1, 2016.
  • Shannon, S. et al. "Cannabidiol in Anxiety and Sleep: A Large Case Series." The Permanente Journal, v. 23, 2019.

quarta-feira, 26 de fevereiro de 2025

Atualizações do Uso da Cannabis Medicinal no Tratamento do Transtorno do Espectro Autista (TEA)


 O Transtorno do Espectro Autista (TEA) é uma condição neurodesenvolvimental caracterizada por dificuldades na comunicação social, padrões de comportamento repetitivos e interesses restritos, frequentemente associada a comorbidades como ansiedade, distúrbios do sono, epilepsia e alterações sensoriais. Nos últimos anos, o uso da Cannabis medicinal, em especial o canabidiol (CBD), tem sido investigado como uma abordagem terapêutica promissora para auxiliar na redução de sintomas comportamentais e emocionais que impactam a qualidade de vida desses pacientes e de seus familiares.

O mecanismo de ação dos canabinoides no TEA está relacionado ao sistema endocanabinoide (SEC), uma rede complexa de receptores, endocanabinoides e enzimas que modulam funções fisiológicas como a neurotransmissão, a neuroinflamação e a plasticidade sináptica. Evidências sugerem que indivíduos com TEA podem apresentar disfunções nesse sistema, incluindo alterações na expressão de receptores CB1 e CB2, o que pode contribuir para déficits na regulação emocional e na excitabilidade neuronal (Zamberletti et al., 2017). O CBD, ao interagir indiretamente com esses receptores e modular a sinalização de neurotransmissores como GABA e glutamato, pode exercer um efeito ansiolítico, neuroprotetor e anti-inflamatório, favorecendo o equilíbrio neuroquímico e reduzindo sintomas de hiperexcitabilidade, irritabilidade e agressividade (Poleg et al., 2019).

Dentre os canabinoides estudados para o tratamento do TEA, o CBD tem se destacado por seu perfil de segurança e pela ausência de efeitos psicoativos, diferentemente do tetrahidrocanabinol (THC), que pode apresentar efeitos adversos, especialmente em pacientes pediátricos. Estudos clínicos sugerem que o CBD pode melhorar sintomas como ansiedade, insônia, comportamentos disruptivos e dificuldades na interação social. Em um estudo de Barchel et al. (2019), crianças com TEA tratadas com uma formulação rica em CBD apresentaram melhora significativa em parâmetros como inquietação, crises de birra e déficits na comunicação.

A dosagem do CBD no TEA deve ser individualizada, iniciando-se com doses baixas e aumentando gradualmente até atingir o efeito terapêutico desejado. Protocolos clínicos sugerem uma faixa de dose entre 0,5 mg/kg/dia e 5 mg/kg/dia, com ajustes progressivos conforme a resposta clínica do paciente (Aran et al., 2021). Monitoramento rigoroso é essencial para evitar efeitos adversos como sonolência, alterações gastrointestinais e interações medicamentosas, especialmente em pacientes que fazem uso concomitante de anticonvulsivantes ou neurolépticos.

As pesquisas sobre Cannabis medicinal no TEA estão em ascensão, mas ainda há necessidade de ensaios clínicos randomizados de longo prazo para estabelecer protocolos padronizados e compreender melhor os efeitos a longo prazo do tratamento. Apesar disso, os achados preliminares são promissores, indicando que o CBD pode representar uma opção terapêutica viável para pacientes com TEA que apresentam sintomas refratários às abordagens convencionais. A prescrição de canabinoides deve ser feita com base em evidências científicas atualizadas, respeitando as diretrizes regulatórias vigentes e garantindo acompanhamento clínico contínuo para otimização da terapia.

Referências Bibliográficas

  • Aran, A., Cassuto, H., Lubotzky, A., Wattad, N., & Hazan, E. (2021). Brief Report: Cannabidiol-Rich Cannabis in Children with Autism Spectrum Disorder and Severe Behavioral Problems—A Retrospective Feasibility Study. Journal of Autism and Developmental Disorders, 51(4), 1531–1538.

  • Barchel, D., Stolar, O., De-Haan, T., Ziv-Baran, T., Saban, N., Fuchs, D. O., Koren, G., & Berkovitch, M. (2019). Oral cannabidiol use in children with autism spectrum disorder to treat related symptoms and co-morbidities. Frontiers in Pharmacology, 9, 1521.

  • Poleg, S., Golubchik, P., Offen, D., & Weizman, A. (2019). Cannabidiol as a suggested candidate for treatment of autism spectrum disorder. Progress in Neuro-Psychopharmacology and Biological Psychiatry, 89, 90-96.

  • Zamberletti, E., Gabaglio, M., & Parolaro, D. (2017). The Endocannabinoid System and Autism Spectrum Disorders: Insights from Animal Models. International Journal of Molecular Sciences, 18(9), 1916.

Cannabis Medicinal no Tratamento da Asma e Doenças Alérgicas: Evidências e Perspectivas

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